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Naquele dia, ao liderar a passeata, enfrentando a força da repressão ainda sob as nuvens negras da ditadura civil/militar, Marisa certamente não consultou nenhum manual feminista. O que a movia era a busca de justiça para o marido e seus companheiros sindicalistas presos.
Cercadas por policiais, tanques e cavalaria, elas saíram da Praça da Matriz e caminharam pela rua Marechal Deodoro até o Paço Municipal, retomando à Igreja da Matriz. Com a atitude, Marisa demonstrou, na prática, que era livre para querer a liberdade do seu homem e de todos os outros que com ele lutavam por melhores salários e melhor condição de vida para a família.
Dali por diante, conciliou de forma amorosa e discreta a sua agenda com a do marido e a dos filhos, sem que dela se pudesse dizer que esteve ausente da política, ou que nela houvesse pontuado mais que Lula, a grande liderança. Soube como ninguém dimensionar a sua militância, sem turvar o protagonismo do companheiro.
Não. Acho que Marisa não leu Simone, mas talvez Simone aprovasse Marisa, entendendo-a como a mulher simples que foi, sem perder a essência da mulher de seu tempo, que foi evoluindo na medida em que as situações o exigiram. Com suavidade, marcou fortemente a história do país. Passou pelos cenários mais diversos, de luxo ou da periferia, entrando e saindo de cena, com a discrição que entendeu que devia. Não a vimos exorbitar, tampouco se omitir. Marisa ocupou o espaço que escolheu ter para si. O de companheira. Foi como se o tempo todo repetisse baixinho um outro pensamento de Beauvoir: “Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância”.
http://www.ocafezinho.com/2017/02/02/marisa-leticia-e-o-feminismo-de-quem-lutou-nas-ruas
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